A começar, ligando as ciências ao tema que será tratado mais adiante, pelas ciências planetárias: Ptolomeu, astrólogo greco-egípcio do século II EC., responsável pela teoria geocêntrica do sistema solar (amplamente aceita e endossada no mundo cristão) já era contestado por diversos cientistas e polímatas do mundo islâmico, como o incrível Alhazém no Egito e, no Al-Andalus, o astrônomo Azarquiel de Toledo e o polímata-filósofo Averróis, que por sua vez chamava o modelo ptolomaico de "anti-natural".

Como sabemos, os conhecimentos escriturais gregos não só foram preservados pelos árabes, como também estes esforçaram-se para traduzi-los e debruçaram-se sobre eles para entendê-los. Não fosse pelo trabalho e zelo árduo dos muçulmanos, Nicolau Copérnico não teria lançado sua "revolucionária" visão heliocêntrica.

Colombo não era um "marinho ignorante", muito pelo contrário, era um homem de letras versado em clássicos árabes e gregos, além de falar diversos idiomas: castelhano, latim, italiano, português e, possivelamente, um pouco de árabe, visto que sua área de atuação como comerciante, especialmente por Gênova, era o Mediterrâneo. Sua empreitada de chegar às Índias através de uma rota a Oeste foi cuidadosamente calculada tendo por base manuscritos árabes que reelaboraram as medidas do matemático e geógrafo grego Eratóstenes no século III AEC. Na verdade, os cálculos não foram conduzidos tão cuidadosamente assim: Colombo errou em duas etapas importantíssimas. Primeiro, confundiu o sistema métrico de milhas árabes com o sistema de milhas romanas, ou milhas italianas, que são mais curtas, diminuindo o perímetro terrestre do Equador em cerca de 25%. O segundo, ligado ao primeiro, foi subestimar a distância até as índias via Oeste.

A milha árabe é a antecessora direta da milha náutica atual, tendo sido estabelecida pela chamada Bayt al-Hikmah (a "Casa do Saber" de Bagdá, um centro cultural e acadêmico da Dinastia Abássida) por um de seus principais expoentes, o astrônomo e engenheiro civil persa Abu al-'Abbas al-Faghrani, conhecido nas traduções ocidentais como Alfragano ou Alfragani. Ao utilizar-se dos escritos de Alfragano, principalmente, Colombo trocou as milhas árabes pelas mais curtas milhas italianas, subestimando assim a suposta distência até as Índias através de uma rota ocidental.

Estátua de Alfragano no Cairo, onde atuou como engenheiro. Alfragano foi uma grande influência não só para Colombo, mas muitos outros estudiosos e navegadores.

Além de Afragano, outros autores que influenciaram Colombo, cujos tratados estavam disponíveis à época foram o astrólogo Ibn Rayal (latinizado como Abenrangel), o astrônomo Azarquiel de Toledo, o médico Ar-Razi (ou Razes) e ninguém menos que Aristóteles, com sua obra "De Caelo" ("Dos Céus") que foi traduzida e comentada por ninguém menos que o polímata andaluzo Averróis (Ibn Rushd), contando, também, com versões com extensos comentários e anotações do geógrafo Abu l'-Hassan al-Mas'udi, de Bagdá. Na área cartográfica, Colombo certamente se utilizou de cartas que foram elaboradas através de adaptações daquelas de Abu Abdallah Al-Idrisi, cartógrafo marroquino do século XI, assim como também podem ter influenciado as cartas náuticas espanholas aquelas produzidas no Al-Andalus, como é o caso da anônima "Carta Magrebina" do século XIV do comtemporâneo de Colombo, Ibrahim al-Mursi, um mudéjar (súdito muçulmano da Coroa de Castela). Temos também, como influência certa e direta, o grande polímata, astrólogo e ocultista árabe Abu Ma'shar, também membro da Bayt al-Hikmah,  conhecido por ser um dos maiores (senão o maior) nomes da astrologia islâmica medieval, sendo responsável por, dentre outras coisas tão interessantesquanto obscuras, relacionar a ascensão e queda de impérios e religiões com os movimentos planetários e fazer a Carta Natal (Horóscopo) de Jesus Cristo.

Página de um manuscrito do século XV de “O Livro das Natividades” de Abu Ma’shar.

Não só muçulmanos estavam envolvidos, também: Abraham Zacuto, um judeu, foi junto do astrônomo ítalo-germânico Johann Regiomontano um dos grandes desenvolvedores das teses náuticas, geográficas e astronômicas dos árabes e gregos. Zacuto, por sua vez, foi decididamente influencidade pela astro-geografia árabe-islâmica, e seus trabalhos não tiveram apenas reconhecimento na Europa Ocidental, mas se espalharam também pelo mundo islâmico. É dito que, em 1486, Zacuto e Colombo se encontraram em Salamanca, ao que parece, com Zacuto encorajando Colombo a realizar sua jornada em direção ao Oeste.

Colombo, a despeito de suas realizações e experiência como navegador, arilheiro e comerciante, ainda assim não estava isento a cometer erros; ao menos quando o assunto era constelações, pois várias vezes chegou a confundir umas com as outras: seu grande trunfo, de fato, era seu estudo advindo do conhecimento astro-geográfico do mundo islâmico.

Seu conhecimento, todavia, não era unicamente advindo dos manuscritos: em uma carta endereçada aos "Reis Católicos" Isabel de Castela e Fernando de Aragão, de 1501, Colombo evidencia encontros com acadêmicos e sábios muçulmanos:

"Acordos e conversações eu tive com gente sábia: eclesiásticos e seculares, latinos e gregos, judeus e mouros e muitos outros de outras seitas [...]".

Para notarmos a presença latente da influência islamo-árabe não apenas no mundo das ideias e teorias, mas na vida real e prática de Colombo, também, é curioso notar que na tripulação de Colombo em sua expedição e chegada à América em 1492, um dragomano (intérprete) falante fluente de árabe e hebreu, o judeu converso Luis Torres, que, a princípio, tentou falar em árabe com os nativos-americanos caribenhos, não obtendo sucesso, é claro, uma vez que as línguas faladas, bem como os povos, e o mundo onde estes viviam, era completamente diferente daquele dos árabes. Mas é interessante notar a conta universal em que este idioma difundido pelos muçulmanos tinha: o primeiro grande navegador europeu acreditava que, não importando que povos encontrasse do outro lado do Atlântico, eles certamente falariam árabe.

Há também, em muitas notas de suas viagens, referências ao que Colombo acredita serem vestígios ou influências da cultura islâmica nas ilhas caribenhas, como as supostas ruínas de uma mesquita no topo de uma montanha em Cuba, pois ele acreditava que estava nas terras do Grande Cã (China Yuan), até perceber que havia encontrado um mundo novo.

Referências bibliográficas:

CRISTOBAL COLON Y LA INFLUENCIA DE LA CIENCIA CARTOGRÁFICA ISLÁMICA EN EL DESCUBRIMIENTO DE AMERICA – História y Arabismo. àAcesso: https://historiayarabismo.wixsite.com/recreahistoria/single-post/2016/10/12/cristobal-colon-y-la-influencia-de-la-ciencia-cartogr%C3%A1fica-isl%C3%A1mica-en-el-descubrimiento

Más Isabel - Cristóbal Colón y la influencia islámica en el descubrimiento de América – MABEL VILLAGRA (2013) – RTV.ES àAcesso: https://www.rtve.es/television/20131125/mas-isabel-cristobal-colon-influencia-islamica-descubrimiento-america/801802.shtml

Colón y los sabios musulmanes – Rafael Bachiller, Fundación de Cultura Islámica (2016). à Acesso: https://funci.org/colon-y-los-sabios-musulmanes/